Relatório da Diretoria 2006-2008

Nestes dois últimos anos, iniciados no memorável II Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e VIII Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, realizado na Universidade Federal do Pará – UFPA/Br, a diretoria da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental dedicou-se a um intenso e sistemático trabalho visando a elaboração de pesquisas, da autoria e da difusão nacional e internacional da produção científica em Psicopatologia Fundamental.

Nesse período, nossa sociedade científica cresceu e se expandiu contando, hoje, com 51 membros de 23 universidades brasileiras e de universidades da Argentina, da Colômbia, do México e da França. Oito novos membros ingressaram desde 2006. Tendo em vista que a filiação à Associação é estritamente voluntária, consideramos que o quadro de sócios é, sem dúvida, a maior conquista da Psicopatologia Fundamental.

Dentre as tarefas realizadas neste período, destaca-se o III Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e IX Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental que ora tem início na Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ/Br.

Com o III Congresso Internacional, o evento promovido por nossa sociedade adquire maturidade e passa a fazer parte da agenda científica do Brasil e do exterior. Nesta versão, não foi possível contar com o patrocínio do Ministério da Saúde do Brasil, da UNESCO e do Conselho Federal de Psicologia – CFP, como ocorreu em Belém. Porém, continuamos a contar com o apoio da CAPES e da já tradicional colaboração da Livraria Pulsional e da Editora Escuta. Contamos, também, com o incansável trabalho do Prof. Dr. Paulo Roberto Mattos da Silva, sem o qual esse Congresso teria naufragado. A colaboração e o apoio do Prof. Dr. Gisálio Cerqueira Filho foi igualmente inestimável. A hospitalidade da Universidade Federal Fluminense garante o êxito do evento.

Graças a um intenso trabalho de divulgação por meio do qual inúmeras instituições públicas de saúde mental, departamentos universitários, associações e sociedades psicanalíticas e grupos psiquiátricos foram individualmente convidados, o Congresso obteve ampla resposta positiva da comunidade científica que se evidencia pelos 571 trabalhos inscritos e cerca de 700 participantes.

Nesta versão do Congresso, haverá 8 conferências, sendo 4 nacionais e 4 internacionais; 8 simpósios, 8 cursos, 103 mesas redondas, 164 trabalhos inscritos como temas livres e agrupados em 41 mesas, 41 posters e 18 trabalhos concorrendo ao Prêmio Pierre Fédida. Trata-se, pois, de uma impressionante produção que vem crescendo a cada nova versão do congresso.

A presença de cientistas da Argentina, do Brasil, da Colômbia, do México, de Cuba, dos Estados Unidos da América do Norte, de Portugal, da França, da Grã-Bretanha e da Rússia confirma, mais uma vez, a vocação claramente internacional deste Congresso e de nossa sociedade científica.

O Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental é, hoje, um marcante evento do campo psi reunindo universitários e extra-universitários que apresentam resultados de pesquisas e reflexões à respeito de suas vivências.

A impressionante produção psicopatológica aqui apresentada revela a pujante força de um complexo e contraditório pensamento clínico-teórico levando em consideração a subjetividade.

Num mundo onde a ciência hegemônica é baseada no método experimental e no avanço tecnológico, os que aqui se reúnem dão um eloqüente testemunho da importância do método clínico, da subjetividade e do pensamento que se deriva dessa posição também científica.

A análise preliminar dos títulos dos trabalhos apresentados neste Congresso revela algumas tendências que já se anunciavam nos congressos anteriores.

Em primeiro lugar, fica evidente a importância da Universidade não só para a formação de pesquisadores, para a realização de pesquisas clínicas e para a elaboração do pensamento psicopatológico. A Universidade, através de seus diversos programas de extensão comunitária, exerce uma forte influência em hospitais gerais, serviços de psicologia aplicada e até mesmo na saúde mental. Combina-se, dessa forma, o ensino, a pesquisa e a extensão psicopatológica fornecendo um evidente aumento de sinergia nessa rede, visando o bem-estar de uma vasta população afetada pelo pathos psíquico.

O componente ainda incipiente neste quadro é o das agências de fomento, quer porque o número de projetos bem formulados é escasso, quer porque as agências ainda não formularam uma política que articule com clareza a pesquisa científica com a relevância social e política.

Fica evidente, em segundo lugar, que a psicopatologia depende tanto da saúde mental quanto da educação. Creches e pré-escolas são evidentes fontes de textos de psicopatologia que levam em consideração a subjetividade e que trazem contribuições muitas vezes originais para a compreensão do pathos psíquico.

A Reforma Psiquiátrica Brasileira, com sua política baseada em equipes multidisciplinares visando a inclusão dos usuários numa sociedade democrática e cidadã não cria, apenas, um outro lugar para a psiquiatria clínica. Promove, também, o aparecimento de novas práticas e pontos de vista que começam a ser relatados em textos narrativos de vivências e pensamentos. Os trabalhadores de saúde mental apenas começam a elaborar uma psicopatologia, com categorias conceituais e protocolos próprios baseados na experiência que vão adquirindo no seu trabalho.

Tanto na Universidade quanto na extensão e na saúde mental, a presença da psicanálise é um fato marcante. Há psicanalistas praticando seu ofício em salas de aula, em hospitais gerais, em serviços de psicologia aplicada, em centros de atenção psicossocial, – CAPS, nos programa de saúde da família – PSF, enfim, por todo o campo psi.

Como conseqüência destas amplas tendências, as vivências clínicas baseadas na aplicação dos sistemas classificatórios a-teóricos deixam de ter relevância e o que se desencobre é uma complexa e contraditória prática clínica levando em consideração a subjetividade e a singularidade de cada caso. As falas e os textos resultantes revelam uma terminologia baseada no senso comum e que abre mão das categorias estabelecidas pela ciência oficial.

A psicopatologia, que se encontrava num estado terminal há alguns anos, reaparece no cenário científico, de forma cada vez mais viva, graças às iniciativas da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Como já disse em outras ocasiões, a Psicopatologia Fundamental vai, dessa forma, realizando um projeto de ser ampla rede discursiva (logos) sobre o pathos psíquico.

A realização desse ambicioso projeto enfrenta, entretanto, uma série de dificuldades científicas que precisam ser abordadas, analisadas e elaboradas no futuro próximo.

Assim, a expressão “que leva em consideração a subjetividade” requer trabalho de pesquisa e de pensamento. A delimitação desse campo específico está intimamente relacionada com a questão do método clínico, que precisa ser igualmente abordado. Sem isso, nossas práticas correm o risco de perder especificidade e podem se tornar procedimentos voluntaristas e ideológicos.

Proponho, então, que realizemos um Colóquio Internacional sobre o método clínico em 2009.

Outra questão que solicita nossa atenção e nossa ação é a da noção de “rede”. Desde o começo, a nossa sociedade científica possui como fundamento, a noção de rede. Agora, as agências de avaliação e fomento da produção científica (CNPq, CAPES, FAPs) pretendem estimular a associação em redes. Mas, o que é isso? Como se reconhece uma rede? Como funciona uma rede? Creio que temos algo a dizer sobre isso, desde que funcionamos assim há 12 anos. Sugiro, então, que se organize um evento para se tratar da produção científica em redes.

Por outro lado, a realização desse ambicioso projeto requer uma série de medidas políticas, administrativas e práticas em direção ao nosso desideratum. As medidas que a direção da Associação tomou, nestes últimos dois anos, foram as seguintes.

Finanças

As contas da AUPPF obedecem ao critério de absoluta transparência. Os cheques emitidos, os balancetes e o balanço são distribuídos regularmente a todos os membros de nossa sociedade.

O exame das contas do ano de 2007 e do primeiro semestre de 2008, revela que a AUPPF está com contas equilibradas e possui recursos para sustentar este Congresso.

Entretanto, não estamos voando em céu de brigadeiro. Como já disse, o Congresso de 2008 não recebeu apoio financeiro do Ministério da Saúde. Recebeu R$ 30.000,00 (trinta mil reais) da CAPES que contrastam com os R$ 50.000,00 recebidos para a realização do Congresso de Belém. Além disso, com o rebaixamento da RLPF de Nacional A para Nacional B, deixamos de receber R$ 20.000,00 da CAPES/CNPq.

Assim, nos dois anos, desde o Congresso de Belém, a nossa receita foi reduzida em R$ 90.000,00. Essa situação irá se refletir em 2009.

Temos, então, pela frente tempos turbulentos e é necessário o aprimoramento da arrecadação de fundos em 2009.

Equipe administrativa

Nestes dois anos, a equipe administrativa da Associação foi ampliada e se consolidou. Para isso, ela conta com uma forte e ampla articulação funcional com a Editora Escuta e a Livraria Pulsional.

Assim, contamos com as seguintes pessoas desempenhando funções administrativas:

1 – Profa. Dra. Ana Cecília Magtaz – Assistente Administrativa da AUPPF e Secretária Executiva do Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line;

2 – João Mário Nedeff Menegaz – Gerente de Marketing;

3 – Magno Soares – Webmaster;

4 – Araide Sanches e Magno Soares – Editora Escuta – Produção da RLPF e outras publicações;

5 – Ricardo Soares – Editora Escuta – Distribuição e venda da RLPF;

6 – Flávio José de Aguiar – Contador;

7 – Heloisa Ugolini – Editora Escuta – contas a receber e a pagar;

8 – Oscar Space Filho – motorista e motoqueiro;

9 – Dra. Maria Rita Coviello Cocian Chiosea – Advogada.

Esta equipe vem sendo montada há alguns anos e só agora começa a funcionar de forma plena. Nos próximos anos, perceberemos com mais clareza a importância dessa estrutura administrativa.

Periódicos

Nestes dois anos, a Associação empenhou-se em produzir a Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental e o Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line.

Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental

A RLPF cresceu e se consolidou, neste período, como revista internacional.

A sua inclusão na base de dados SciELO e nas bases de dados Social Sciences Citation Index; Social Scisearch e Journal Citation Reports/Social Sciences Edition, da Thomson Reuters, coloca a revista num evidente patamar internacional.

Essa conquista se deve, em grande parte, ao trabalho realizado pela equipe de editores e pelas Comissões editorial e científica.

Além disso, a RLPF é um periódico com artigos de impacto no campo psi.

Latin American Journal of Fundamental Psychopathology on Line

A Editoria do Latin American Journal of Fundamental Psychopathology on Line apresetou, no bienio 2006-2008 as seguintes realizaçoes:

1) a ediçao de 5 números regulares, correspondentes à periodicidade assumida de publicações semestrais:

:: Volume 5, Número 1, maio de 2008
:: Volume 4, Número 2, novembro de 2007
:: Volume 4, Número 1, maio de 2007
:: Volume 3, Número 2, novembro de 2006
:: Volume 3, Número 1, maio de 2006

2) Mudança na editoria associada a partir do Volume 4, Número 2, novembro de 2007. Saiu a Profa. Dra. Vera Lopes Besset da Universidade Federal do Rio de Janeiro, assumindo a Profa. Dra. Junia de Vilhena – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro;

3) Como estratégia voltada para a internacionalização da revista, os números publicados a partir de 2007.2, contam com textos de colaboradores estrangeiros;

4) Fontes de Indexação: O LAJFP, conta com indexaçao no PEPsic (Periódicos Eletrônicos em Psicologia) – http://pepsic.bvs-psi.org.br. No momento preparamos estratégias de ampliaçao das indexaçoes, de acordo com as novas regras de exigencias da área;

5) Uma última alteraçao realizada foi a divulgaçao de resumos de Teses e dissertaçoes defendidas no âmbito dos laboratórios de Psicopatologia Fundament e demais laboratórios associados.

Avaliação:

O periódico, mesmo seguindo sua regularidade nas publicações e representar a produção da AUPPF, ainda conta com uma participação insignificante dos membros da associação.

Portanto, é necessario o compromisso de todos os asociados no sentido de colaborações dietas e captação de trabalhos de outras instancias que fortaleçam o periódico.

Implementadas as colaborações podemos planejar uma periodicidade quadrimestral, sendo esta uma meta que devemos alcanzar até o final do próximo bienio.

Setembro de 2008

Henrique Figueiredo Carneiro – Editor

Junia de Vilhena – Editor associado

Pesquisas

Em 2007, a Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental patrocinou um primeiro projeto de pesquisa: o Laboratório de Saúde Mental.

Os resultados dessa pesquisa realizada por Ana Cecília Magtaz, Mônica Teixeira e Manoel Tosta Berlinck constam no portal www.fundamentalpsychopathology.org.br

Eles são relevantes para a prática da saúde mental e para os “policy makers” da área da saúde e têm tido impacto em vários textos científicos sobre esse assunto.

Essa experiência revela que a Associação pode, eventualmente, patrocinar pesquisas, se contar com a colaboração de agências de fomento. É claro que essa iniciativa poderia ser mais freqüente e eficaz se fosse desejada por membros da nossa sociedade científica.

Portal

O portal www.fundamentalpsychopathology.org.br conta com os cuidados do Webmaster Magno Soares e a orientação científica da Profa. Dra. Ana Cecília Magtaz.

Como já disse, as possibilidades de um portal que combina informação e conteúdo são gigantescas.

Nestes dois anos, a tradução de textos para o inglês aumentou e, hoje, os principais documentos da Associação encontram-se no portal, nas duas versões. Além disso, a inclusão da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, dos Anais dos Congressos, com textos completos; o Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line, teses e livros de seus membros, tornaram o portal um local (site) de referência para a psicopatologia, que vem recebendo um número crescente de visitas. De julho de 2007 a julho de 2008, o portal de nossa sociedade científica recebeu o seguinte número de visitas:

2007

Julho – 6.942

Agosto – 14.610

Setembro – 18.158

Outubro – 20.850

Novembro – 23.182

Dezembro – 14.173

2008

Janeiro – 13.624

Fevereiro – 17.015

Março – 26.270

Abril – 29.971

Maio – 38.060

Junho – 41.392

Julho – 22.456

Como já afirmei em outras oportunidades, neste caso, o trabalho mais delicado e complexo é o da atualização das informações, pois ele depende da cooperação de todos os membros da Associação.

Recomendo, então, que enviem os textos completos de suas publicações (artigos e livros) para constarem do portal e incluam o portal no registro que fizerem no cv Lattes.

Sugiro, ademais, que enviem os textos completos das dissertações e teses de seus orientandos para serem publicados no portal. Basta, para isso, que enviem por e-mail para o endereço da Associação, com a data e o local da defesa e a composição da Banca Examinadora. Assim vocês poderão declarar que os trabalhos de dissertações e teses estão num portal de conteúdo tanto para a CAPES como para o CNPq.

Encontro Científico

Em 2007, a AUPPF realizou o IX Encontro Científico na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

Essa reunião bi-anual, que congrega somente os professores doutores membros da Associação, tem uma tripla finalidade: 1) proporcionar uma oportunidade de troca científica a respeito dos projetos de pesquisa em execução e a articulação de novos projetos incluindo os membros; 2) o intercâmbio sobre a produção, a autoria e a difusão da Psicopatologia Fundamental e 3) a realização de Assembléia onde os projetos e o funcionamento da Associação recebem comentários e sugestões.

Os Encontros Científicos visam, também, a consolidação da solidariedade orgânica indispensável para o fortalecimento da Associação.

Os Encontros Científicos são, portanto, momentos de grande importância, pois é a partir deles que o futuro da Associação Universitária e da própria Psicopatologia Fundamental é traçado. Além disso, o convívio entre os membros num ambiente acolhedor perto de um grande centro urbano é de grande importância. Desses Encontros têm nascido os primeiros projetos de cooperação entre membros do grupo.

Concurso Internacional Pierre Fédida de Ensaios Inéditos de Psicopatologia Fundamental

A versão 2008 do Concurso Internacional Pierre Fédida de Ensaios Inéditos de Psicopatologia Fundamental contou com 18 trabalhos inscritos, um a mais do que o concurso anterior.

Os textos foram considerados, em geral, de excelente nível e a natureza internacional do Concurso se consolida com a presença de escritos vindos, desta vez, do México.

O Concurso Pierre Fédida, assim como o Congresso, as revistas, a Biblioteca de Psicopatologia Fundamental e os Encontros científicos pretendem estimular a autoria pela escrita.

A Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental considera que a autoria de textos sobre a prática clínica, literária, histórica, filosófica e artística a respeito do pathos psíquico é o mais rico e complexo caminho em direção ao logos.

Considera, também que, dada a natureza do pathos, o caminho em direção à linguagem que bem represente vivências páticas é o mais rico e complexo processo através do qual o sujeito pode deixar de ser paciente, ou seja, alvo passivo dessa força misteriosa, enigmática e insistente que exerce nele um violento poder.

Considera, também, que a autoria é a forma mais rigorosa, rica e complexa de se revelar as resistências preconceituosas, ideológicas e políticas que impregnam o sujeito. Na escrita e pela escrita, o sujeito descobre, de forma dolorosa, as suas limitações e as enormes dificuldades enfrentadas nesse tortuoso caminho em direção à linguagem, um discurso textual representativo de vivências páticas ocorridas na existência.

Assim, escrever Psicopatologia Fundamental é colocar em texto um sofrimento afetivo sempre presente na prática, quer seja clínica, quer seja mais amplamente existencial.

A escrita em Psicopatologia Fundamental contém, portanto, três requisitos básicos.

O primeiro e mais importante é que seja uma narrativa do vivido, ou seja, a escrita quando é de Psicopatologia Fundamental, inclui sempre o relato de caso, a descrição de personagem denominada paciente, ou seja, um sujeito afetado pelo pathos psíquico. O paciente, quer seja ele médico, psicológico, psicanalítico, filosófico ou artístico é sempre, na escrita, um personagem, uma figura que não possui correspondência bi-unívoca na realidade material e histórica.

O personagem pático, ao ser narrado, cria o autor, dá vida àquele que se responsabiliza por encontrar palavras para o vivido e, com freqüência, é confundido com o existente. Entretanto, ao criar o autor, o personagem pático se afasta da realidade material e histórica e passa a ser figura textual representativa. Dora criou Freud e este autorizou um personagem. Ellen West criou Binswanger e este autorizou esta fascinante e trágica mulher. Nem Dora, nem Ellen West, entretanto, são o que seus autores narram. O personagem é figura imaginária, representativa e, por isso, significante.

O segundo requisito básico do texto de Psicopatologia Fundamental é de que a construção simbólica compreensiva do personagem pático se derive, rigorosamente, da clínica. Em Psicopatologia Fundamental não existe teoria, entendida como uma construção hipotético-dedutiva formalmente elegante a respeito de um domínio empírico. A Psicopatologia Fundamental é, neste sentido, eminentemente clínica. O texto é, portanto, metapsicológico e/ou histórico e o episódio clínico é metapsicologia em germe. As questões compreensivas relatadas por Freud, no caso Dora, são intimamente relacionadas ao personagem e à situação vivida. As questões compreensivas de Binswanger no relato de caso de Ellen West são propostas pelo personagem no relato. Os relatos e as reflexões dos psiquiatras europeus do século XIX possuem evidente fundamento clínico.

O terceiro requisito básico de um texto de Psicopatologia Fundamental é que ele não seja original, ou seja, que haja uma articulação com a longa e rica tradição da escrita psicopatológica. A Psicopatologia Fundamental baseia-se, portanto, na história. Quando isso não acontece, revelando a posição preconceituosa, ideológica e política do autor, o sintoma, manifestação pática sempre atual, sempre contemporânea, transforma-se em contemporaneidade supondo uma ruptura material e histórica e uma originalidade que afasta o personagem da subjetividade.

Assim, a chamada contemporaneidade, essa qualificação do tempo e do lugar que mal esconde a ignorância preconceituosa, ideológica e política do autor, só interessa à Psicopatologia Fundamental se for imediatamente negada pela inatualidade própria do sintoma e por uma sólida articulação com sua história psicopatológica. A Psicopatologia Fundamental é, pois, uma construção discursiva articulada à inatualidade; ela é eminentemente inatual e, por isso mesmo, histórica.

Estas considerações sobre as características básicas de um texto de Psicopatologia Fundamental foram construídas paulatinamente e foram profundamente influenciadas pelos sucessivos Concursos Pierre Fédida que adquire, assim, uma relevância na série de iniciativas da Associação.

Biblioteca de Psicopatologia Fundamental

A Biblioteca de Psicopatologia Fundamental, coleção de livros dirigida por Manoel Tosta Berlinck e publicada pela Editora Escuta, reúne importantes textos resultantes de pesquisas em psicopatologia.

A coleção tem, hoje, 37 títulos que são divulgados através da “Carta Pulsional”, encaminhada semanalmente para cerca de 14.000 endereços eletrônicos, e pelos portais http://www.fundamentalpsychopathology.org.br e http://www.psicopatologiafundamental.org.br

Além disso, os livros da “Biblioteca de Psicopatologia Fundamental” contam com a eficiente distribuição da Editora Escuta e são encontrados na maior parte das livrarias do país.

Eles são vendidos, também, por diversas livrarias virtuais entre as quais se destaca a Livraria Pulsional on Line www.livrariapulsional.com.br.

Bibliotecas universitárias têm adquirido títulos desta coleção, indicador de sua utilidade para o estudo e a pesquisa em psicopatologia.

Projetos

Em 2009, a Associação estará empenhada na realização do Colóquio Internacional sobre o Método Clínico, que será realizado na cidade de São Paulo. Além disso, estará empenhada na realização do X Encontro Científico que ocorrerá junto com o Colóquio, conforme decisão da Assembléia Geral Extraordinária realizada em 2008, em Niterói.

Em 2010, a Associação realizará o IV Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e o X Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental em Curitiba, PR e o tema geral do encontro será: o amor e seus transtornos.

Além disso, a recém eleita diretoria da Associação pretende continuar os projetos em andamento: a Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, o Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line, o Concurso Internacional Pierre Fédida, a Biblioteca de Psicopatologia Fundamental, os Encontros Científicos, o Congresso e o portal.

São Paulo, outubro de 2008.

Prof. Dr. Manoel Tosta Berlinck
Presidente – 2006 – 2008.