Revistas > Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental > Volumes > Volume 14, Número 2, junho de 2011

EDITORIAL

Ainda podemos pensar?

O Editorial publicado na Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental de março de 2011 merece alguns comentários.
O artigo de Vannevar Bush, “As we may think”, vindo a público originalmente na revista Monthly Review de julho de 1945, anuncia uma situação que se realizou plenamente com os fantásticos avanços tecnológicos ocorridos depois da Segunda Guerra Mundial; a fabricação em massa de computadores pessoais (PCs) e a internet.

Manoel Tosta Berlinck

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ARTIGOS

Sobre a hipótese freudiana de histeroepilepsia de Dostoievski

Busca-se elucidar a leitura proposta por Freud sobre a histeroepilepsia de Dostoiévski, recorrendo-se aos textos, biografia e correspondência do escritor russo. A hipótese de ausência de epilepsia encontra limites, mas verifica-se que a relação de Dostoiévski aos representantes paternos tem papel decisivo em sua neurose, como construção sintomática para lidar com o desamparo.
Palavras-chave: Dostoiévski, histeroepilepsia, histeria, pai

Romina Moreira de Magalhães Gomes

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A repetição e o Projeto de 1895: gérmen de um conceito

Este artigo tem como propósito trazer uma contribuição à questão da repetição na teoria freudiana. Partindo dos textos pré-psicanalíticos propomos resgatar o conceito de vivência de dor, que nos coloca frente ao problema da repetição do desprazer. A dor aparece como uma falha dos dispositivos de proteção do aparato neuronal, apontando um processo que, mesmo envolvendo o desprazer, continua se repetindo, e nos dá indícios do que será designado, vinte anos depois, como compulsão à repetição.
Palavras-chave: Vivência de dor, repetição, temporalidade, memória

Diego Frichs Antonello e Regina Herzog de Oliveira

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Clínica da toxicomania: uma expressão melancólica?

O presente artigo tem como objetivo compreender por meio da teoria psicanalítica um caso clínico, que se apresenta inicialmente como um caso de toxicomania. No entanto, na construção da transferência, percebeu-se uma profunda tristeza que nos remete à melancolia. A partir daí, traçamos paralelos teóricos entre a toxicomania e a melancolia, concluindo, a respeito do nosso caso, que a toxicomania e a melancolia bebem da mesma fonte metapsicológica.
Palavras-chave: Toxicomania, melancolia, psicanálise, clínica

Shana Nakoneczny Pimenta, Maria Virginia Filomena Cremasco e Serge Lesourd

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Comorbidade entre bulimia nervosa e transtorno de personalidade borderline: implicações para o tratamento

O estudo investiga o manejo clínico de pacientes com comorbidade entre transtorno alimentar e transtorno de personalidade borderline. Utilizou-se como estratégia metodológica o estudo de caso e o enfoque psicanalítico para análise dos dados. Após revisão teórica do tema, acompanha-se a evolução do tratamento por meio de vinhetas clínicas. Finalmente, postula-se o lugar do terapeuta como alguém que oferece um ambiente de confiança e acolhimento do sofrimento do paciente.
Palavras-chave: Psicoterapia, processos psicoterapêuticos, bulimia, distúrbio de personalidade borderline

Bruno de Paula Rosa e Manoel Antonio dos Santos

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À la recherche d’une écoute. La clinique psychanalytique dans la banlieue de la citoyennete

Cet article propose une discussion sur le travail psychanalytique dans des communautés économiquement défavorisées. Face à des patients présentant des agencements subjectifs très différents de ceux qui ont originairement fait l ́objet de la théorie psychanalytique, nous proposons d ́utiliser le concept de confusion de langues de Ferenczi pour penser les problèmes posés par les différents modèles qui guident les rapports sociaux en jeu dans des sociétés très sélectives, de façon à mettre en relief les différentes dimensions de la souffrance psychique, en particulier la dimension psycho-sociale.
Mots clés: Culture, psychopathologie, souffrance psychique, psychanalyse

Junia de Vilhena, Ana Cleide Guedes Moreira, Joana de Vilhena Novaes e Maria Inês Garcia de Freitas Bittencourt

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A emergência da cura pela palavra na medicina mental do século XIX

Este artigo analisa algumas das condições de possibilidade da emergência da terapia pela palavra no rol de terapêuticas médicas no fim do século XIX. A hipótese é de que o processo de construção do psiquismo, como objeto médico, está relacionado à emergência de categorias de doença referidas a sintomas sem explicação anatômica, como foi o caso da neurastenia, da histeria e da psicastenia, que contribuíram para tornar insuficiente a referência à organicidade como causa de doenças mentais e para a criação de um novo gênero de clínica centrado na fala.
Palavras-chave: Terapia pela palavra, medicina mental, categorias médicas

Rafaela Teixeira Zorzanelli

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CLÁSSICOS DA PSICOPATOLOGIA

Artigo

Legrand Du Saulle: da agorafobia ao medo dos espaços

Henri Legrand du Saulle, célebre alienista francês do século XIX, escreve em 1878 “Estudo clínico do medo dos espaços (a agorafobia dos alemães) – neurose emotiva”. Constituindo uma abrangente recapitulação crítica dos trabalhos psiquiátricos do século XIX concernentes à agorafobia, assim como uma ótima compilação de descrições clínicas, esse texto situa os fundamentos dessa psicopatologia, os quais serão posteriormente desenvolvidos tanto pela psiquiatria como pela psicanálise.
Palavras-chave: Agorafobia, medo dos espaços, angústia

Thais Guimarães Rodrigues e Mário Eduardo Costa Pereira

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Ensaio

Estudo clínico sobre o medo dos espaços (agorafobia, dos alemães) – neurose emotiva

Sob o nome de medo dos espaços, descrevo hoje um estado neuropático muito particular, caracterizado por uma angústia, uma impressão ansiosa viva, ou mesmo um verdadeiro terror, que se produz subitamente em face de um determinado espaço. Este acidente nervoso é essencialmente emotivo. Ele nunca se acompanha da perda completa de consciência e de queda, e é totalmente distinto da hipocondria, da vertigem epilética, da vertigem estomacal e, sobretudo, da neuropatia cérebro-cardíaca. Provavelmente entrevisto por Griesinger, em 1868, ele foi assinalado cientificamente somente a partir de 1872 por Westphall, Cordes, S. Webber, Williams, Brown-Sequard e M. Perroud de Lyon, sob a designação de agorafobia, de angústia dos espaços e medo dos espaços.

Henri Legrand Du Saulle

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HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

Artigo

Os êxtases da Irmã Germana: diferentes interpretações em torno das doenças nervosas no Brasil

Apresenta diferentes concepções em torno dos êxtases de uma beata (Irmã Germana) que viveu em Minas Gerais no século XIX, o parecer do médico Antônio Gonçalves Gomide, seguido do exame de dois cirurgiões e da narrativa do naturalista Auguste de Saint-Hilaire. O objetivo é situar historicamente os textos, investigando as orientações teóricas dos autores e o modo como analisaram os êxtases da beata. A publicação dos documentos pode contribuir para o estudo dos saberes médico-mentais em inícios do século XIX no Brasil.
Palavras-chave: Irmã Germana, doenças nervosas, Brasil

Simone S. de Almeida Silva, Cristiana Facchinetti e Lorelai Brilhante Kury

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Ensaios

Impugnação analítica ao exame feito pelos clínicos Antônio Pedro de Souza e Manuel Quintão da Silva em uma rapariga que julgaram santa na capela da Senhora da Piedade da Serra

O título completo é: Impugnação Analítica ao exame feito pelos clínicos Antônio Pedro de Sousa e Manuel Quintão da Silva em uma rapariga que julgaram santa na capela da Senhora da Piedade da Serra, próxima à Vila Nova da Rainha do Caeté, Comarca do Sabará, oferecida ao ilustríssimo Senhor Doutor Manoel Vieira da Silva, Primeiro Médico da Comarca de Sua Alteza Real, e do seu Conselho, Fidalgo da Casa Real, Físico-Mor do Reino, Estados e Domínios Ultramarinos, Comendador das Ordens de Cristo e da Torre Espada, Provedor-Mor da Saúde etc., etc., etc. Rio de Janeiro, na Imprensa Régia, 1814. Com licença da Mesa do Desembargo do Paço.
(Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil. Setor de Obras Raras. Loc. OR 00063[4]).

Antônio Gonçalves Gomide

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A Serra da Piedade e a Irmã Germana (1833)

Conheci na Serra da Piedade uma mulher de quem falavam muito nas comarcas de Sabará e Vila Rica. A irmã Germana, tal o seu nome, fora atacada dez anos antes (escrito em 1818), de afecções histéricas acompanhadas de convulsões violentas. Fizeram-na exorcismar; empregaram-na remédios inteiramente contrários ao seu estado e o mal agravou-se. Ao tempo de minha viagem ela chegara, havia já muito tempo, ao ponto de não poder mais deixar o leito, e a quantidade de alimentos que ela tomava cada dia era pouco maior que a que se dá a um recém-nascido. Ela não comia carne e recusava igualmente as gorduras, não podendo mesmo tomar um caldo.

Auguste de Saint-Hilaire

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HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA, POR GERMAN E. BERRIOS

Artigo

Henri Ey, Jackson e as ideias obsessivas

O artigo destaca a importante contribuição do professor de psiquiatria Henry Ey aos estudos sobre John Hughlings Jackson. Analisa historicamente uma interface pouco conhecida de Jackson com a psiquiatria: o diálogo sobre as “ideias obsessivas” que figura nas páginas da revista Brain, entre 1894 e 1895. Discute as razões históricas que podem explicar a não influência de Jackson na psiquiatria britânica, em contraste com a ampla difusão de suas posições no campo da neurologia.
Palavras-chave: Ideias obsessivas, John Hughlings Jackson, Henry Ey, psicopatologia – história

German E. Berrios

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RESENHA DE LIVROS

A propósito da obra Retorno à questão judaica: diálogo com Elisabeth Roudinesco

Em tempos de penúria, quando alguns insistem em desmentir o fato da catástrofe que inundou de sangue a civilização, a Shoá; quando outros tantos sustentam que o Estado de Israel é o único referente identitário possível para os judeus ou, ao contrário, colocam em questão sua legitimidade; e ainda quando muitos insistem em julgar o conflito Israel/Palestina no eixo maniqueísta do bem e do mal; um livro que se propõe interrogar a questão judaica mais além dessas barreiras ideológicas é extremamente bem-vindo. Tanto mais porque a autora, Elisabeth Roudinesco, estabelece ao longo dos capítulos uma rigorosa advertência contra o exercício da crueldade e da violência social.

Betty Bernardo Fuks

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O eu em ruína. Perda e falência psíquica

Freud comparou o trabalho do psicanalista ao trabalho do arqueólogo que, a partir de alguns vestígios e restos materiais, procura montar o que pode ter pertencido a uma civilização. De forma análoga, o psicanalista procuraria encontrar formas simbólicas – a partir dos restos de memórias diretamente como lembranças infantis, ou indiretamente, por meio das formações oníricas, sintomas, atos falhos na linguagem e vivências sensoriais – que permitam à consciência impregnar de sentidos cognoscíveis o eu.

Ernesto René Sang

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CAPA / COVERCapa: Teresa BerlinckImagem da Capa: André Berlinck, 2011.