Revistas > Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental > Volumes > Volume 14, Número 1, março de 2011

EDITORIAL



Vannevar Bush: uma apresentação

Em julho de 1945 uma das pessoas mais bem posicionadas do mundo para especular sobre o futuro da ciência e da tecnologia era Vannevar Bush, que durante os anos anteriores havia dirigido o Escritório de Pesquisa Científica e Desenvolvimento, ligado à Presidência dos EUA. Como diretor, Bush supervisionou e esteve em contato direto e intenso com os principais projetos científicos dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, incluindo-se entre estes os dois mais visíveis, que foram o desenvolvimento do radar e a bomba atômica.
Ao final da guerra, Bush definiu a estruturação do sistema de pesquisa norte-americano, com o relatório ao Presidente Truman intitulado “Ciência a fronteira sem fim” que teve – e ainda tem – enorme impacto sobre a organização da atividade científica em muitos outros países, inclusive no Brasil.



Carlos Henrique Brito Cruz


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Como podemos pensar

Como diretor do órgão norte-americano Office of Scientific Research and Development, o dr. Vannevar Bush coordenou atividades de cerca de seis mil lideranças científicas norte-americanas na aplicação da ciência à guerra. Neste expressivo artigo ele propõe um incentivo aos cientistas para o trabalho em tempos de paz, estimulando-os a se dedicarem à tremenda tarefa de tornar mais acessível nossa espantosa acumulação de conhecimento. Há anos as invenções vêm estendendo antes o poder físico do homem que o poder de sua mente. Martelos de forja que multiplicam os punhos, microscópios que aguçam os olhos e motores de destrui- ção e detecção são novos resultados, mas não os resultados finais da ciência moderna. Atualmente, afirma Bush, existem instrumentos à mão que, se corretamente desenvolvidos, darão ao homem acesso e comando ao conhecimento herdado através dos tempos. O aperfeiçoamento desses instrumentos pacíficos deveria ser o primeiro objetivo dos cientistas ao emergirem de seu trabalho na guerra. Como o famoso discurso de Emerson de 1837, o “American Scholar”, o artigo de Bush é um chamado para uma nova relação entre pensadores e a soma do conhecimento humano.



Vannevar Bush


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CONFERÊNCIA


A dívida de afeto

O texto A dívida de afeto, escrito por Plínio Prado (professor no Departamento de Filosofia da Universidade de Paris 8), foi inicialmente apresentado em Paris durante o nacional sobre JeanFrançois Lyotard, na École Normale Supérieure da rua d’Ulm, em 23 de março de 1999. Lyotard, à diferença de Michel Foucault e de Gilles Deleuze (seus contemporâneos do Departamento de Filosofia da Universidade de Paris 8), é ainda relativamente pouco conhecido no Brasil. O termo “filosofia do desejo” e, mais tarde, “pós-moderno”, que o tornou internacionalmente célebre, contribuíram mais para ocultar a sua obra do que para fazer jus a ela.


 
Plínio W. Prado Jr.


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ARTIGOS



Psicanálise e antropologia: diálogos possíveis

A partir de uma experiência concreta de pesquisa, este texto propõe 57 um diálogo entre psicanálise e antropologia, particularmente no que se refere às relações entre pesquisador e pesquisado no trabalho etnográfico: na coleta, na análise e na interpretação dos dados. Essas relações foram pensadas com base na noção de transferência, o que evidenciou a possibilidade do diálogo, tanto no plano analítico quanto metodológico, entre disciplinas que pensam a realidade mediada pela linguagem.
Palavras-chave: Psicanálise, etnografia, transferência, pesquisa



Natália Alves Barbieri
Cynthia Andersen Sarti


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Das neuroses atuais às neuroses traumáticas: continuidade e ruptura

Analisamos as vicissitudes da neurose traumática, partindo das contribuições de Freud. Propomos uma linha de continuidade – considerando também os pontos de ruptura – entre as neuroses traumáticas e as neuroses atuais, a partir de uma releitura da dimensão de “atual” em Freud, articulada com a de compulsão à repetição. Ampliamos a compreensão das neuroses traumáticas por meio da ideia da formação de enclaves no espaço psíquico, exterioridade interna radical que tende a se fazer sempre atual por sua repetição compulsiva.
Palavras-chave: Neuroses traumáticas, neuroses atuais, enclaves, compulsão à repetição


 
Marta Rezende Cardoso


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Anorexia: o traço da obstinação na clínica psicanalítica

Veremos como o traço da “obstinação” na anorexia mental reflete elementos fundamentais para a compreensão dessa patologia. A recusa, na anorexia, possui a função de reação ativa frente a um outro intrusivo. A negação é compreendida a partir de duas vias: como sustentação do desejo próprio ou como um modo de aniquilação do desejo. No entanto, estas duas vias podem ser pensadas não como contradição, mas como uma fecunda aporia. Do mesmo modo, o tema da “obstinação” é de suma importância para a clínica em geral, conduzindo a uma análise da negação como uma forma possível de relação com o desejo.
Palavras-chave: Anorexia, recusa, desejo, negação



Isabel Fortes


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Compulsão à repetição e regressão à dependência em Winnicott

Neste artigo pretendo fazer uma análise da alternativa que Winnicott dá à compreensão do fenômeno clínico caracterizado por Freud como sendo o da compulsão à repetição. Defende-se que Winnicott substituiu a questão da repetição pela questão da regressão à dependência na situação analítica, o que colocaria o eu do paciente numa situação em que ele pode se desfazer de suas defesas, retornando a uma situação anterior ao trauma e à edificação de defesas.
Palavras-chave: Repetição, regressão, dependência, integração


Leopoldo Fulgencio


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O inconsciente no pensamento de Merleau-Ponty: contribuição para a psicoterapia
 
Este artigo tem como objetivo apresentar a contribuição do conceito de inconsciente no pensamento de Merleau-Ponty para a psicoterapia. Propõe a noção merleau-pontyana de fala autêntica enquanto uma expressão do inconsciente em psicoterapia, definido como “articulações do campo”. Conclui que o conceito de inconsciente em Merleau-Ponty densifica a teorização da psicoterapia humanista-fenomenológica como uma psicoterapia que, buscando os significados do Lebenswelt, tem por propósito, sempre inacabado, a compreensão do quiasma.
Palavras-chave: Inconsciente, Merleau-Ponty, psicoterapia



Virginia Moreira


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SAÚDE MENTAL



Artigo

A avaliação dos usuários sobre os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinas, SP
 
Este artigo trata da avaliação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinas, sob a perspectiva dos seus usuários por meio do desenvolvimento de estudo hermenêutico-narrativo. Percebe-se que os CAPS são os únicos espaços reconhecidos com potência terapêutica pelos usuários, que relataram transformações efetivas em suas trajetórias, principalmente em sua relação com a doença e na construção de sentidos para o tratamento. A participação de pacientes portadores de transtornos mentais graves em pesquisa avaliativa se mostrou viável, apesar de se tratar de exercício pouco explorado no Brasil.
Palavras-chave: Hermenêutica, narrativa, avaliação participativa, Saúde Mental, Centros de Atenção Psicossocial


 
Luciana Togni de Lima
Silva Surjus Rosana Onocko Campos


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MEDICINA DA ALMA



Artigo


Anatomia da alma entre verdade e conhecimento

O homem moderno considerava-se perdido num mundo de ilusão e na multiplicidade de objetos, à procura de uma nova orientação. Este artigo objetiva analisar propostas de conhecimento sobre a alma e as escolhas metodológicas da primeira modernidade. Foca-se a analogia da anatomia da alma enquanto método de busca do conhecimento daquilo que o Eu ignora, mas que o causa a despeito de si mesmo.
Palavras-chave: Conhecimento, verdade, anatomia da alma

Paulo José Carvalho da Silva


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História da Psicopatologia, por German E. Berrios



Artigo
 
O estupor revisitado

O estupor é uma síndrome negligenciada. Isso pode ser devido à sua baixa incidência, complexidade intrínseca e boa resposta à ECT. A pobreza do material clínico não tem permitido análises estatísticas e científicas adequadas e, portanto, sua fenomenologia e neurofisiologia permanecem não esclarecidas. Questões importantes são: 1) se o estupor constitui uma forma estável de comportamento chegando a ser uma “síndrome complexa”; 2) se ele representa um comportamento pré- -programado ou vestigial que pode ser desencadeado por noxa severa, seja psicogênica ou orgânica; 3) se a personalidade e causa subjacente desempenham um papel modulador e 4) se os estupores orgânicos e funcionais compartilham mecanismos subjacentes similares ou, alternativamente, se referem a estados clínicos não relacionados. Um ponto de vista evolucionário deveria integrar os estupores neurológicos e orgânicos e justificar o uso da resposta de “congelamento” ou cataléptica ao estresse em animais como um modelo de pesquisa. Isso deveria, por sua vez, sugerir predições farmacológicas de interesse para o manejo do estupor humano.
Palavras-chave: Estupor – história; transtornos da consciência – diagnóstico; transtornos da consciência – psicopatologia; transtornos psicorgânicos (organic mental disorders)


 
German E. Berrios


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Delirium e confusão mental no século XIX: uma história conceitual

O delirium permaneceu uma categoria psiquiátrica estável até o início do século XIX, quando passou por uma redefinição etiológica e fenomenológica, precipitando a transformação das insanidades funcionais em psicoses.
 A confusão, introduzida pelos franceses ao longo da segunda metade do século, referia-se a uma síndrome mais ampla (porém incluindo) o delirium. Enfatizava o pensamento caótico e as falhas cognitivas. A noção de turvação da consciência (e desorientação temporoespacial) estabeleceu um denominador comum para as duas concepções, enquanto Chaslin e Bonhoeffer redefiniram a confusão e o delirium como as manifestações estereotipadas da insuficiência cerebral aguda.
Palavras-chave: Delirium – história; confusão mental – história; transtornos da consciência – história; transtornos cognitivos – história



German E. Berrios


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RESENHA DE LIVROS
 



Do clima e das doenças do Brasil ou estatística médica deste Império

Os estudiosos interessados na melhor compreensão do Oitocentos brasileiro acabam de ganhar um precioso presente – a publicação da tradução brasileira do clássico da bibliografia médica do século XIX, Do clima e das doenças do Brasil ou estatística médica deste Império, do médico francês Joseph François Xavier Sigaud. A publicação de uma obra que é referência fundamental para a história do saber médico e do estabelecimento do seu campo no Brasil é motivo de aplauso também pela sua caprichosa apresentação – tradução cuidadosa, acompanhada de dois importantes textos introdutórios, que nos ajudam a compreender a obra de Sigaud nos debates do seu tempo, nos saberes que ela incorpora, e difunde e naquilo que ela inova e se abre ao futuro.


 
Wilma Peres Costa


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Uma genealogia de infames

Inválidos, incapazes, excluídos, aleijados, deformados, alienados, mentecaptos, doentes ou simplesmente degenerados são algumas das categorias que Lília Lobo resume na ideia de sujeitos infames, aos quais atribui a característica da invisibilidade histórica. Ao enfocar suas trajetórias a autora acredita revelar parte da história de nosso país: a da constituição das categorias de deficiência no Brasil. O livro versa sobre sujeitos que atravessaram as adversidades de sua época e que, por não possuírem voz, tiveram suas histórias esquecidas: crianças, escra- vos, deficientes.


 
Renata Prudencio da Silva


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CAPA / COVERCapa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Elida Tessler, Você me dá a sua palavra?, 2004-2011. Pregadores de roupa com palavras escritas a canetal, varal. Dimensões variáveis. Trabalho em processo.