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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 17, número 3 (Suplemento),  setembro de 2014

SUMÁRIO / CONTENTS

EDITORIAL

Edilene Freire de QueirozÉ consenso que o laço social, hoje, se organiza numa montagem perversa. O discurso capitalista tem determinado mudanças subjetivas na relação do sujeito com o Outro, marcadas pelo imperativo de consumir e usufruir, gozando sempre mais e mais, conotando um mal-estar pelo excesso e pela tendência a transgredir limites. O semblante perverso que adquiriu as relações atuais nos convoca a discutir, metapsicologicamente; a perversão considerando, de um lado, seus usos sociais, de outro, suas incidências intersubjetivas.

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ARTIGOSO discurso perverso Edilene Freire de Queiroz  É consenso que o laço social, hoje, se organiza em uma montagem perversa. Não temos mais um mestre que governe as ações, as organizações familiares não se organizam em torno do poder paterno, vivemos um tempo da feminilização da cultura e numa lógica capitalista. O discurso capitalista não exige a renúncia pulsional, ao contrário, ele instiga o usufruto do gozo e o outro é reduzido a objeto. Isso determinou uma mudança na economia pulsional, na forma de cada um lidar com a realidade externa, que passou a ser mutante, e na fenomenologia discursiva.O gozo na linguagem está em mostrar com a palavra, em produzir um discurso imagético.

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“Vou pintar o terror!”: “Pois bem, veja então isso!” Paula Cristina Monteiro de Barros, Nanette Zmerj Frej e Maria de Fátima Vilar de MeloA errância do adolescente em situação de rua reflete uma segregação social perversa, marcada pela destituição simbólica e pela mutilação social. Em meio ao despedaçamento e ao desamparo, um adolescente enuncia e ameaça: “Vou pintar o terror!”. Uma violência que ora se apresenta como um reflexo do organismo ora ancora-se num esboço de discurso endereçado ao Outro, numa tentativa de inscrição. Partimos de uma experiência clínico-institucional (Olinda, PE) e propomos situar, na radicalidade da violência, uma tentativa de enodamento entre o ato e o apelo ao Outro.

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Um sujeito no mercado das pílulas Vera Lopes BessetO consumo iguala todos como semelhantes, a partir de soluções para-todos, desconsiderando a particularidade da subjetividade. O fibromiálgico recusa o tratamento universal ofertado pela ciência, seu tratamento deve respeitar a lógica do caso a caso. A discussão proposta se ancora em dados clínicos para pensar a especificidade de uma subjetividade, para além da patologia, forjada a partir de uma ordem de ferro, em tempos de declínio do poder norteador do amor ao pai.

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Corpolinguagem e o não limite da palavra no insulto Glória Maria Monteiro de Carvalho e Maria de Fátima Vilar de MeloTomamos, como ponto de partida deste artigo, o conceito de violência estrutural (Lebrun, 2002), isto é, a violência da linguagem que nos constitui como seres humanos. No mundo contemporâneo, a negação desse tipo de violência produziu uma violência suplementar que passa, necessariamente, pela carência da palavra. A análise de uma situação — querela entre lavadores de carros — forneceu indicações sobre uma maneira de atuação da violência suplementar, desfazendo os efeitos simbólicos produzidos pela violência estrutural, ou seja, desfazendo os limites instituídos pela linguagem.

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Le sujet entre sidération et jouissance: l’issue sulimatoire. À propos de l’oeuvre de Francisco Brennan Véronique DonardCet article traite de l’univers inconscient des sculptures de l’artiste brésilien Francisco Brennand (1927) et des mécanismes archaïques qui sous-tendent leur création. Axée sur la thématique de l’origine, cette approche des oeuvres de Brennand étudie les racines du désir sexuel et son rapport aux objets partiels, considérant la sidération du sujet face à la cruauté d’une sexualité archaïque et la jouissance de l’artiste comme défi à la mort et à l’énigme du néant. Elle s’intéresse alors au processus sublimatoire comme transmutation du matériel traumatique et au destin de la pulsion scopique et de cruauté dans la création artistique.

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O consumidor e a perversãoIlka Franco FerrariO texto considera a atualidade discursiva do capitalismo e seus vieses perversos, lembrando a aspiração sadeana de república regida pelo imperativo e singularidade do gozo, onde se imbricam os consumidores, todos proletários e na exigência do mais-de-gozar. Percorre a fantasia perversa, o desejo perverso e a fetichização de um objeto alçado à condição de causa de desejo, para além da estrutura perversa. Chega à solidão dos indivíduos reduzidos a seus corpos no predomínio dos gadgets, e ao mundo da falta de vergonha. A psicanálise lacaniana é a norteadora, e o Japão é exemplo que ensina. 

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Le lien social pervers Christian HoffmannLa définition lacanienne de la perversion comme saturation du manque dans l’Autre par l’objet pulsionnel est incompatible avec la philosophie néolibérale du lien social et sa définition d’un sujet autonome qui ne reconnaît pas l’Autre comme lieu d’une altérité dans un lien social tissé par la marchandisation du corps et des jouissances. 

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Práticas sociais das perversões: modernidade do laço, organização social e dilemas morais Alexandre Lévy   Propomos estudar primeiramente certos aspectos do discurso capitalista, aproximando-os dos processos perversos da clínica do sujeito para, em seguida, questionar a dimensão da moral e da construção social. Apoiaremo-nos em algumas pesquisas experimentais sobre a submissão à autoridade, bem como sobre algumas questões postas pela filosofia moral em termos de “dilemas”, a fim de avaliar os efeitos de divisão subjetiva. A orientação perversa parece ser aqui um motor essencial, fazendo passar, em nome do Outro, um gozo que não diz seu nome, um gozo desmentido. 

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A perversão no território: os efeitos do desmentido Ivo de Andrade Lima Filho e Vera Lúcia Dutra Facundes

Este artigo discute os efeitos do desmentido (Verleugnung) do perverso sobre o outro, a coletividade, destacando seus possíveis endereçamentos. Trata-se de uma pesquisa ação realizada em uma unidade de Saúde da Família em Recife (PE). Os participantes foram agentes comunitárias de saúde em grupos reflexivos. Problematizou- se um fragmento clínico em que uma criança era abusada por um perverso. Destacou-se a necessidade de uma intervenção para barrar o gozo do perverso e libertar a criança.PDF

A dinâmica perversa na adoção: interrogando sobre filiação Luciana Enilde de Magalhães Lyra Macêdo  No presente trabalho, propomos discutir situações em que o lugar conferido ao adotando no discurso familiar evidencia que a criança é pensada na relação como um objeto de consumo. Que elementos encontrados nesses casos nos permitem pensar sobre desejo de filho e perversão? Haveria uma tentativa de produzir um Outro completo? Diante disso, abordamos questões relacionadas ao perfilhamento, aos elementos que possibilitam a instauração do lugar de filho, dos lugares de pai e de mãe, visando refletir sobre demandas perversas na adoção, considerando as relações entre sujeito e Outro.

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Perversion maternelle et troubles du comportement de l’enfant: l’exemple de Dylan, objet du caprice de sa mèreVirginie Martin-Lavaud À partir d’une situation clinique, nous analysons en quoi les troubles dits du comportement de l’enfant viennent répondre à une position psychique perverse maternelle. Nous mettons l’accent sur la notion de fantasme maternel œdipien mis en acte et questionnons la position d’objet fétiche de l’enfant. Nous montrons notamment que le statut des actes du sujet pris dans le non-sens et la tromperie, objet du caprice maternel, désigne un désir inscrit hors la loi phallique et que cette inscription est en soi perverse. Elle explique que l’enfant n’a alors pas d’autre alternative que de devenir lui-même clivé et hors sens.

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Perversão nas mulheres ou perversão feminina. Uma questão de sexuaçãoPatrick Martin-Mattera A questão do sexo da perversão resulta de uma problemática necessariamente social. Perversão polimorfa, perversão patoló- gica, perversão estrutural, são as três modalidades de abordagem que nos interessam aqui para cruzar as noções de sexuação e de perversão. A perversão tem um gênero, isto é, pertence especifi- camente a um estilo masculino ou feminino ou existe por um lado uma perversão masculina e, por outro, uma perversão feminina?

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Assassinos seriais e os efeitos da sideração no psiquismo e no laço social Klaylian Marcela Santos Lima Monteiro Os processos que caracterizam a constituição da subjetividade dos assassinos seriais relacionam-se ao papel que neles têm o superego arcaico. Ao analisarmos as interfaces destes tipos de configurações psíquicas com os laços sociais, nos deparamos com as figuras dos assassinos seriais tratados como ícones da cultura pós-moderna, uma vez que são idealizados em filmes, livros e séries de TV, além de serem cultuados por muitos por sua capacidade de encanto, inteligência e engodo, movimentos que sideram e compactuam com os laços sociais perversos observados na contemporaneidade. 

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Le temps pour comprendre des “petits curieux”Véronique Pautrel À partir de plusieurs situations cliniques de consultations psychothérapeutiques, le constat d’une contradiction entre la disqualification des recherches sexuelles de l’enfant par les adultes alors même que ces derniers hyper-sexualisent l’environnement permet de soutenir un questionnement sur les effets psychiques de cette contradiction sociale sur le développement psycho affectif de l’enfant. Que devient la curiosité de l’enfant quand le temps pour comprendre disparaît?

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A perversão dos ideais no fundamentalismo religiosoZeferino Rocha O objetivo do artigo é refletir, na perspectiva da metapsicologia freudiana, sobre alguns processos e componentes psíquicos de natureza perversa, que estão na base dos ideais dos fundamentalistas religiosos. Neste contexto, consideraremos o conceito de “narcisismo de morte” (ou “narcisismo negativo”) e sua articulação com a pulsão de morte, como também a distinção entre Eu ideal e Ideal do Eu para melhor compreender o modelo das “idealizações”, pelas quais os fundamen- talistas religiosos sacrificam seu próprio Eu, em nome de um Eu ideal que não é senão a projeção de suas ambições narcísicas infantis. 

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Da prática (privada) da perversãoMathilde Saïet Elas têm vinte, trinta, quarenta ou setenta anos, e possuem a particularidade de terem conservado um objeto transicional, um “doudou”, pequeno pedaço de tecido ou pelúcia surrada remontando à primeira infância, que lhes proporcionam uma sensação “única”, convocando um sentimento de quietude e de alegria, dos quais elas não podem — nem querem — se abster. Essa persistência do “objeto transicional” abre uma dupla interrogação sobre, de um lado, a natureza e o estatuto desse objeto e, de outro lado, a existência de um fetichismo específico, próprio ao sexo feminino, convocando, desse modo, um erotismo singular. 

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A transgressão que salva Edson Luiz André de Sousa Este artigo parte da hipótese que toda produção no campo da arte coloca em cena, necessariamente, uma transgressão. A arte precisa de uma transgressão que busque tencionar os códigos instituídos abrindo espaços para novas significações. Contudo, nem toda transgressão é perversão. Este artigo busca fundamentar esta tese discorrendo sobre alguns fundamentos do ato de criação mostrando suas interfaces com o discurso psicanalítico.

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O sujeito adolescente e a intervenção psicanalítica: notas a partir de um caso clínicoLeônia Cavalcante Teixeira Este artigo versa sobre as vicissitudes subjetivas e institucionais das medidas sócioeducativas a partir das interfaces entre os estudos sobre a subjetividade nos campos da Psicanálise e do Direito. O adolescer é analisado a partir dos paradoxos e enigmas estruturantes que se instauram no processo de constituição subjetiva, sendo privile- giado como momento lógico a partir da construção de um caso clínico que interroga as intervenções junto ao sujeito adolescente no campo nebuloso de interface entre Psicanálise e Direito. A perversão social consiste no foco da discussão teórico-clínica, sendo o conceito que fez trabalhar a possibilidade de uma clínica psicanalítica quando indica- ções jurídicas não consideram as vicissitudes subjetivas.

PDFINSTRUÇÕES AOS AUTORES

CAPA / COVER Capa: Teresa BerlinckProjeto Gráfico: Associação Univesitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental