Revistas > Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental > Volumes > Volume 13, Número 4, dezembro de 2010

EDITORIAL

A noção de subjetividade na Psicopatologia Fundamental

A Psicopatologia Fundamental é um discurso (logos) sobre o pathos psíquico, que leva em consideração a subjetividade. Como tal, ela se distingue da Psicopatologia Geral, escrita em 1913 por Carl Jaspers (1987), que leva em consideração as manifestações psicopatológicas conscientes.
Jaspers era um eminente discípulo de Immanuel Kant (Arendt, 2008). Este, por sua vez, reconhecia a existência de uma dimensão predominante no humano denominada de “obscura”. Há, entretanto, no humano, uma outra dimensão que Kant denomina de “clara”. Apesar de reconhecer que a dimensão clara é uma pequena parte do humano, Kant (2009) opta por investigar e compreender essa dimensão, deixando a outra de lado.

Manoel Tosta Berlinck

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ARTIGOS

Charles Darwin: um observador do desenvolvimento humano

Os autores traduzem, pela primeira vez para o português, o artigo de Charles Darwin “A Biographical Sketch of an Infant”, publicado no periódico Mind em julho de 1877. Utilizando anotações de observações do desenvolvimento de seus filhos, especialmente de seu filho mais velho William Erasmus (Doddy), Darwin descreve e estuda, a partir de seu enfoque naturalista, o filhote humano, narrando os primeiros indicativos comportamentais de emoções tais como raiva e medo, curiosidade e senso moral, o brincar e o prazer envolvido nesta atividade, a capacidade de imitação e os primeiros indícios daquilo que hoje conhecemos como “teoria da mente”. Colocando-se questões sobre as capacidades do bebê, como eles aprendem e como se comunicam e levantando hipóteses sobre possíveis significados de certos comportamentos, questões ainda hoje fundamentais para o estudo do desenvolvimento humano, Darwin mostra- -se também um pioneiro no estudo do bebê e da criança pequena, numa época na qual as capacidades dos bebês eram extremamente subestimadas e desconsideradas.
Palavras-chave: Darwin, desenvolvimento do bebê e da criança pequena

Eloisa Helena Rubello Valler Celeri
Antonio Carvalho de Ávila Jacintho
Paulo Dalgalarrondo

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God‘s eyes and the schizophrenic hands: listening to a psychiatric patient

This article describes the intriguing case of a young female patient first seen in the emergency room and then followed up at the psychiatric outpatient facility of the General Hospital at UNICAMP, Brazil. The cooperation that ensued between psychiatrists and a psychoanalyst to reach a psychopathological diagnosis is also presented here. The differential diagnosis is discussed within a psychiatric framework and then contributions listening to the patient’s free associations related to the clarification of her psychopathology are described. The clinical collaboration between psychiatry and psychoanalysis proved effective in this case as a clinical method for approaching the patient. Key words: Psychopathology, psychiatry, psychoanalysis, case report, clinical method

Luciane Loss Jardim
Clarissa R. Dantas
Fabricio Z. Miranda
Claudio E.M. Banzato

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Inscrições corporais: tatuagens, piercings e escarificações à luz da psicanálise

O presente artigo visa apreender os discursos contemporâneos sobre o corpo pensando-o como um espaço de inscrição subjetiva. O trabalho é resultado da interlocução entre pesquisas coordenadas pelas autoras em três programas de pós-graduação, cujo foco recai nos estudos acerca de diferentes modalidades de inscrições corporais. Tomando como crivo de nossas elaborações a psicanálise, enfocamos as tatuagens e as escarificações que, embora distintos, apresentam-se como formas de linguagem.
Palavras-chave: Corpo, linguagem, pós-modernidade, psicanálise

Jacqueline de Oliveira Moreira
Leônia Cavalcante Teixeira
Roseane de Freitas Nicolau

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L’alexie aujourd’hui. Quelques hypothèses sur un symptôme de notre temps

La difficulté pour un sujet à lire — voire à écrire — est un symptôme actuel de notre civilisation. Plusieurs exemples cliniques viennent interroger le rapport entre apprentissage et savoir inconscient pour un sujet. L’origine de l’envie d’apprendre dans les pulsions freudiennes est soulignée ainsi que la nécessaire fonction de perte des objets petit a (et particulièrement le regard et la voix). Du côté du réel, la fonction des lettres qui se perdent est aussi mise en question. La direction de la cure et la prise en compte de sa temporalité est traitée en vue d’une lecture de l’inconscient comme un jeu de mots, de lettres.
Mots clés: Savoir, corps, pulsion, objet petit a

Tatiana Pellion

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Urgência subjetiva do neonato em UTI

O artigo tem por objetivo questionar alguns discursos sobre os primórdios da estruturação do sujeito para, posteriormente, construir hipóteses sobre o que estaria em jogo na experiência do neonato prematuro na UTI. Para tal, à condição do organismo biológico e às intervenções médicas oporemos as funções da fala e da linguagem como determinantes do que será constituído como trauma. Além disso, discutiremos como abordar a questão do tempo nos processos de subjetivação levados a cabo pela criança.
Palavras-chave: Neonato, psicanálise, UTI, linguagem, trauma, tempo

Angela Vorcaro

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SAÚDE MENTAL

Artigo

O profissional de referência em Saúde Mental: das responsabilizações ao sofrimento psíquico

O objetivo é abordar as responsabilizações do profissional de referência relatadas como geradores de sofrimento psíquico: vínculo com usuário, organização do trabalho e suporte institucional. Trata- -se de uma pesquisa-ação realizada em Centros de Atenção Psicossocial de Goiânia – GO. Participaram 22 profissionais de diferentes áreas em grupos operativos de reflexão, e os dados foram examinados pela análise de conteúdo. É destacada a importância da dimensão clínica e do suporte institucional.
Palavras-chave: Serviços de Saúde Mental, profissional de referência, sofrimento psíquico, reforma psiquiátrica

Elisa Alves Silva
Ileno Izídio da Costa

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OBSERVANDO A MEDICINA

Artigo

Medicina não é ciência exata: as relações entre o chavão e os modos de formar de um médico, segundo uma escola dos EUA

O artigo para o qual Observando a Medicina chama atenção neste número da Revista – “Desafio aos requisitos pré-médicos tradicionais como indicadores de sucesso na Escola de Medici- na: o Programa Humanidades e Medicina da Escola de Medicina Monte Sinai” – foi publicado em agosto de 2010 na Academic Medicine, órgão oficial (com revisão por pares) da Association of American Medical Colleges. O programa referido no título – Programa Humanidades e Medicina da Monte Sinai – foi instituí- do em 1987 e abre a alunos que tenham optado por diplomas em humanidades ou ciências sociais durante o college a possibilida- de de ingresso mediante um sistema de seleção especial que não inclui o exame convencional para ingresso em cursos de medi- cina, o Medical College Admission Test. O MCAT avalia conhe- cimentos em química geral e orgânica, física e biologia que, desde 1930, são considerados requisitos mínimos para quem está no college e quer entrar em uma escola de medicina nos EUA.

Mônica Teixeira

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Ensaio

Desafio aos requisitos pré-médicos tradicionais como indicadores de sucesso na Escola de Medicina: o Programa Humanidades e Medicina da Escola de Medicina Monte Sinai

Estudantes competem agressivamente enquanto se preparam para o MCAT (Teste de Admissão à Universidade de Medicina, na sigla em inglês) e atendem às exigências pré-médicas tradicionais que possuem valor educacional incerto para carreiras médicas e científicas e limitam seu escopo nas artes liberais e na educação biomédica. O presente estudo avaliou o desempenho nas faculdades de medicina de alunos graduados em ciências humanas e sociais os quais não frequentaram disciplinas de química orgânica, física e cálculo, isto é, não seguiram o caminho pré-médico, e não prestaram o MCAT.

David Muller, MD
Nathan Kase, MD

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MEDICINA DA ALMA

A memória ventre da alma

O artigo aborda o tema da memória como proposto num sermão de Vieira (1654), buscando reconstruir as matrizes conceituais (a concepção de memória de Agostinho e de Bernardo) e práticas (a tradição da ortopraxis desenvolvida nas comunidades monásticas na Idade Média). Para ambos, a memória é concebida como processo ativo e abrangente, intimamente associada à emoção e à imaginação: não apenas rememora, mas organiza experiências e conceitos segundo um esquema norteado por lugares e percursos, tornando-os disponíveis para a invenção e a construção cognitiva.
Palavras-chave: Memória, Agostinho, Antônio Vieira, machina memorialis

Marina Massimi

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RESENHA DE LIVROS

Neurose e não neurose

Este livro, que se desenvolve em linguagem clara e didática, condensa o pensamento de Marion Minerbo, para o qual contribuem sua atuação como psicanalista e supervisora. Mas o ponto de partida se dá em sua experiência como docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise, a partir da percepção de certos sintomas nos psicanalistas em formação.

Silvana Rea

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Psicose, sintoma, psicopatologia: a clínica contemporânea e suas vicissitudes

“O que lembro, tenho”. A instigante frase de João Guimarães Rosa pode ser tomada como ponto de partida para a leitura do mais recente livro organizado pela professora Vera Lopes Besset e pelo professor Henrique Figueiredo Carneiro. Podemos dizer que esse lembrar, no texto de Besset e Carneiro, traduz-se pelo tecer, pois é no próprio alinhavo dos textos apresentados no livro que os autores reconstroem, costuram e desvelam as marcas e os fios constitutivos dos discursos contemporâneos sobre a psicopatologia do cotidiano, encaradas à luz da clínica atual.

Cássio Eduardo Soares Miranda

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RESENHA DE ARTIGOS

Surdos, mudos e alucinados

Foi certamente confortante para os seus alunos – e, porque não dizer, uma sensação apaziguadora para toda a posteridade da qual, naturalmente, todos fazemos parte – quando Esquirol (1772-1840) cunhou em seu portentoso e decisivo Maladies mentales, de 1838, a frase na qual estabeleceu, sobressaindo-se por entre o meio da miscelânea de descrições e de definições que reinavam anárquicas até então, a definição canônica do que se passou a entender como o elemento fundamental de uma experiência alucinatória.

Guilherme Gutman

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CAPA / COVER Capa: Teresa BerlinckImagem da Capa: Andréa Tavares, Briga, 2007, 70x100cm, aquarela e tinta acrílica sobre papel.