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Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, volume 2, número 3, setembro de 1999

SUMÁRIO / CONTENTS
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Editorial

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Artigos

Nascimento de um corpo, origem de uma história

(Birth of a body, origin of a history)

Piera Aulagnier

Partindo do pressuposto de que toda história significante se constrói a partir do nascimento de um corpo – corpo este que deverá ser investido libidinalmente – a autora discute os movimentos constitutivos da psique e sua relação com o corpo. A ênfase é dada ao postulado do auto-engendramento que diz que enquanto o espaço psíquico e o espaço somático estão indissociáveis, a psique imputará à atividade das zonas sensoriais o poder de engendrar suas experiências.

A autora parte daquilo que o corpo torna visível nos registros da emoção e do sofrimento somático, para compreender seu papel na construção do “corpo latente”, que é o seu duplo psíquico.

A “aquisição” do corpo pelo Eu (Je) é seguida passo a passo no texto. A “historização” da vida somática só pode ser feita por um biógrafo: o Eu. Este Eu (Je) deve, entretanto, ser capaz de reconhecer como seus os eventos que marcaram significativamente sua vida. Para que o biógrafo e biografia existam é necessário que psique e corpo passem a se relacionar como pólos separados, marcando assim a passagem do corpo sensorial ao corpo relacional. O Eu (Je) só pode ocupar um corpo que possua uma história. A primeira versão desta história é elaborada pela psique que acolhe este corpo. Nesta história estará contido um “Eu (Je) antecipado”, referente à imagem do corpo da criança que a mãe antecipa, permitindo assim que a criança seja inserida num sistema de parentesco. Contudo, a situação pode complicar-se quando a imagem criada pela mãe não corresponde ao corpo com o qual a criança vem ao mundo. Os conflitos insuportáveis e os lutos irrealizáveis gerados por essa situação são ampla e longamente debatidos: a psicose, o autismo, as manifestações psicossomáticas, as somatizações polimorfas.

No final do texto são analisadas, de forma pormenorizada, as conseqüências da não ancoragem do representante psíquico que a mãe traz do corpo do infans na realidade do corpo com o qual a criança nasce.

Palavras-chave: Psicanálise, corpo, história, investimento

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A dor

(Pain)

Manoel Tosta Berlinck

Este trabalho relata pesquisa sobre a natureza psicopatológica da dor partindo da noção de que o humano habita na dor. Esta passa, assim, a ser um conceito-limite do humano que não consegue ultrapassá-la, apesar dos recursos farmacológicos e psíquicos disponíveis para dela se proteger. Nesta perspectiva, o corpo humano solicita uma concepção que seja capaz de levar em consideração tanto a dor física como a psíquica.

Palavras-chave: Dor, psicopatologia, corpo, sexualidade

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Édipo. Tempo, mito, psicopatologia, psicanálise

(Oedipus. Time, mith, psychopathology, psycho-analisis)

Maurício Silveira Garrote

Este texto dá continuidade ao desenvolvimento da construção como instrumento da elaboração metapsicológica.

Neste método, a partir dos sentimentos e fantasias gerados em seu psiquismo e em seu corpo durante a experiência de atendimento a pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, o autor constrói uma narrativa literária que comporta a história de um tratamento e sua elaboração metapsicológica.

No texto em questão, um Heráclito ficcional de inspiração heideggeriana utiliza os recursos da análise do ser-aí e da quadridimensionalidade do tempo para introduzir a idéia de que o tempo do tratamento psicanalítico é um tempo psicopatológico.

Em seguida, um xamã de influência bergsoniana se apropriará da crítica da espacialização do tempo e da idéia do tempo como duração para introduzir um novo paradigma da compreensão médica da clínica, paradigma que propõe a contrapelo da visão da clínica como uma repetição dos acontecimentos memoráveis e equivalentes, uma concepção da clínica como processo cumulativo de enriquecimento do mundo mental do par médico-paciente.

Palavras-chave: Esquizofrenia, psicanálise, psicopatologia fundamental, experiência clínica.

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Sujeito, desamparo e violência

(Subject, helplessness and violence)

Isabel da Silva Kahn Marin

A proposta deste trabalho é refletir sobre a violência na sociedade contemporânea, entendendo-a como uma forma possível do sujeito dar conta da situação de desamparo provocada por exigências pulsionais crescentes o que o expõe, portanto, a um excesso de excitação.

Para compor este trabalho, a autora partiu da hipótese de que a tentativa de cada sujeito humano em negar uma violência primordial é o que o leva a sentir dificuldade de se colocar como referência diante do outro que dele depende. Esta falta de referência acarreta para o sujeito grande desamparo frente às suas necessidades pulsionais. Discute-se, a partir daí, que um indivíduo submetido a forças pulsionais intensas pode ser capaz de atos violentos destrutivos como afirmação última de singularidade.

O trabalho retoma, de um lado, a partir da ótica freudiana, a concepção do EU como uma forma de defesa dos ataques provenientes seja das pulsões internas, seja do exterior. O ato de violência se instaura quando o adulto atende o frágil ser desamparado que é um bebê recém-nascido, desiludindo-o da sensação nirvânica. Desenvolve-se assim a idéia da violência articulada à constituição do sujeito, inspirada também nos trabalhos de Piera Aulagnier e Conrad Stein. De outro lado, procura-se discutir, a partir da contribuição de Calligaris, algumas características da sociedade contemporânea e do imaginário pós-moderno, que contribuem para que as exigências pulsionais a que são submetidos os indivíduos sejam cada vez maiores. Nessa sociedade narcisista, o ideal de autonomia predomina e o individualismo é a meta. Assim sendo, a idéia de submeter o outro à própria vontade parece ser uma violência inominável. Interpretar a necessidade desse outro, buscar as possíveis formas de satisfazê-la, ir ao encontro das leis de regulação social, implicam em enunciar a falta, em relembrar a catástrofe da perda da estabilidade, do Nirvana. É assumir a violência fundamental que permite a relação com o outro, de forma criativa e não fusionada, como muitas vezes se faz em nome da felicidade e do amor. Essa é a condição do aparecimento do sujeito.

Palavras-chave: Sujeito, violência, desamparo, pulsão.

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A direção do tratamento e o uso do psicofármaco

(The direction of the treatment and the use of psychopharmacological drugs)

Gilda Paoliello

A partir da demarcação das diferenças entre o sintoma psiquiátrico e o psicanalítico e da especificidade do psicofármaco dentro da medicina, a autora discute a importância de a psicanálise acompanhar os avanços da psicofarmacologia assim como a importância de não se desvincular os conceitos operativos da psicanálise, tais como a transferência e o conceito de sujeito, do ato de medicar.

Palavras-chave: Psiquiatria, psicanálise, sintoma psiquiátrico, sintoma psicanalítico, psicofármaco

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A pesquisa psicopatológica na Universidade

(Psychopathological research at the University)

Edilene Freire de Queiroz

O presente trabalho visa discutir a pesquisa psicopatológica partindo de um posicionamento epistemológico da psicanálise e da psicopatologia. Para tanto se apóia na distinção de dois campos: o campo da realidade objetiva e o campo da realidade psíquica ou subjetiva. O primeiro, pertinente à tradição da ciência, tão presente no espaço da academia e, o segundo, como próprio das ciências que tentam dar conta do psicopatológico. À luz de dois textos de Freud, “A negação” e “Construções em análise”, estende esta discussão ao campo da representação.

Palavras-chave: Psicopatologia, ciência, Freud, representação.

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La huída em la obra de Mario Vargas Llosa

(Scape in the work of Mario Vargas Llosa)

German Arce Ross

Se trata de poner en perspectiva la mayor parte de novelas de Mario Vargas Llosa en función del tema de la huída, partiendo del hecho que é1 solicitó la nacionalidad Española inmediatamente después de haber perdido las elecciones para la Presidencia del Perú y de haber escrito El pez en el agua.

Nuestro análisis intenta demostrar la importancia de la figura paterna – principalmente en el sentido de su ausencia y de sus bruscas reapariciones – en la cristalización sintomática del tema de la fuga. Es por eso que una analogía con la posición fóbica, en relación al padre o a sus substitutos, nos ha parecido pertinente.  Teniendo como pivot el análisis de la forma, del contexto y del contenido de su libro de memorias, este trabajo definiría así las bases de una contribución literaria de la obra de Vargas Llosa a la clinica de la fobia.

Palabras clave: Huida, figura paterna, fobia, psicopatología.

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Notas sobre psicopatologia

(Notes on psychopathology)

Carol Sonenreich; Giodano Estevão; Luis de Morais Altenfelder Silva Filho

O termo Psicopatologia é usado em vários sentidos: equivalente da psiquiatria, da parte da psiquiatria que trata dos distúrbios leves em oposição aos graves, da sintomatologia em oposição à nosologia, teorias do psiquismo e dinâmica emocional. Os assuntos incluídos sob este título são tratados por outros autores como Psiquiatria Geral, Psicologia Médica, Psiquiatria Clínica. Autores dos mais notáveis não definem propriamente o termo, mas indicam quais devem ser os objetivos, os métodos de trabalho que atribuem à Psicopatologia. Escolhemos usar o termo para designar o estudos das teorias sobre o desenvolvimento, funcionamento e alterações das atividades mentais, a interpretação dos sintomas e sinais em função de fatores biológicos e psicológicos, o significado dos distúrbios de relacionamento e conduta, as bases principais dos sintomas de classificação nosológica. Pesquisas e reflexões precisam ser realizadas para atualizar a Psicopatologia. Neste sentido, como exemplo, apresentamos certas propostas para conceituar e trabalhar com os delirantes.

Palavras-chave: Psicopatologia, psiquiatria, nosologia, sintoma.

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Reflexões sobre a clínica psicanalítica das psicoses

(Reflexions on the psycho-analytical clinic of psychosis)

Luiz Carlos Tarelho

O presente artigo tem como objetivo discutir algumas questões relacionadas à clínica psicanalítica das psicoses. Partindo da constatação que o método psicanalítico clássico se mostrou, desde o início, inadequado ao tratamento das psicoses, o autor se propõe a refletir sobre as possíveis razões dessa inadequação. Tomando como base desta reflexão a idéia de que a prática e a teoria, sobretudo na psicanálise, caminham lado a lado, ele procura mostrar que a grande fonte dessa inadequação encontra-se no fato de que o método psicanalítico clássico está fundamentado numa concepção teórica sobre a formação do inconsciente que não consegue explicar de modo satisfatório o que ocorre nas psicoses neste âmbito. E, segundo a hipótese defendida pelo autor, isso se deve ao fato de que essa concepção não considera o papel preponderante desempenhado pelo inconsciente parental neste processo. Assim, em sua opinião, a questão não é simplesmente de adequação do método em si, mas, antes, de uma mudança de paradigma que permita uma re-orientação, tanto da teoria quanto da técnica, a partir de um ponto de vista descentralizado sobre a formação do inconsciente.

Palavras-chave: Psicanálise, psicose, inconsciente, método clínico

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Clássicos da Psicopatologia

ARTIGO:
C’est toujours la même chose: Charcot e a descrição do Grande Ataque Histérico

Mario Eduardo Costa Pereira

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ENSAIO:

A grande histeria ou hístero-epilepsia

(The great hysteria or hysteric-epilepsy)

Jean-Martin Charcot

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Resenha de Artigos

Estudo mostra equivalência de resultados com terapia cognitivo-comportamental e com medicação antidepressiva no tratamento da depressão grave

Mario Eduardo Costa Pereira

Medications versus cognitive behavior therapy for severely depressed out patients: mega-analysis of four randomized comparisons
R. Derubeis, L. Gelfand, T. Tang & A. Simons

American Journal of Psychiatry, 156: 1007-1013, July 1999

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Psicoterapia é equivalente ou superioir aos antidepressivos tricíclicos no tratamentos da depressão unipolar
Mario Eduardo Costa Pereira 

Psychotherapy versus medication for unipolar depression

T. Eells

J. Psychother. Pract. res., April 1999, 8, pp. 170-173

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Associação de tratamentos psicológicos e psicofármacos no tratamento a longo prazo dos transtornos ansiosos

Mario Eduardo Costa Pereira

Interaction of pharmacological and psychological treatments of anxiety

M. Lader & A. Bond

British Journal of Psychiatry, 1998, 173 (suppl. 34), pp. 42-48.

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Estudo americano propõe técnica específica para tratamento psicodinâmico do transtorno de pânico

Mario Eduardo Costa Pereira

Theory and technique in psychodynamic treatment of panic disorder

F. Busch, B. Milrod & M. Singer

J. Psychother. Pract. Res., July 1999, 8. pp. 234-242

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 Abordagens psicoterápicas mostram-se eficazes no tratamento dos transtornos de personalidade tipo borderline

 Mario Eduardo Costa Pereira

Effectiveness of psychotherapy for personality disorders

J. Perry, E. Banon & F. Ianni

American Jpurnal of Psychiatry, September 1999, 156, pp. 1312-1321

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Morre Zbigniew Lipowski, um dos criadores da moderna “consultoria psiquiátrica”

 Mario Eduardo Costa Pereira

In memorian: Zbigniew J. Lipowski, M.D.

Psychosomatics, April 1999, 40, pp. 93-94

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Estudo de gêmeos mostra que depressão maior é igualmente herdável entre homens e mulheres

 Mario Eduardo Costa Pereira

A population-based twin study of lifetime major depression in men and women

K. Kendler & C. Prescott

Archives of General Psychiatry, January 1999, 56, pp. 39-44

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